Como cuidar melhor dos nossos idosos para protegê-los do coronavírus

“Quanto mais isolados socialmente esses idosos ficarem pelo período de surto, mais eles ficarão protegidos”, diz presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.


Poucas coisas são claras em relação à disseminação do novo coronavírus, mas há uma certeza: nossos idosos compõem o principal grupo de risco da doença. É entre eles que os riscos e a taxa de mortalidade são maiores ― especialmente entre aqueles com mais de 80 anos. 
Como cuidar melhor dos nossos idosos para protegê-los do coronavírus

A letalidade na população em geral é de 2,3%, mas considerando a faixa etária entre 60 e 69 anos é de 3,6%. Dos 70 aos 79 anos, ela cresce para 8%. Quando passa de 80 anos, o índice chega a 14,8%. 
Os dados integram o mais completo levantamento divulgado até agora sobre o coronavírus e feito pelo Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (Chinese Centre for Disease Control and Prevention - CCDC) a partir da análise dos primeiros 44.672 casos confirmados no país.
Os números indicam ainda que também são entre as pessoas com idade avançada que os casos são mais severos. O período já delicado da vida exige ainda mais cuidados neste momento de pandemia. Com a intenção de protegê-los, pessoas que convivem diariamente com idosos têm se perguntado o que podem fazer para preservar ao máximo seus pais e avós. 
Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o médico Carlos André Uehara é taxativo na resposta: “o fundamental é mantê-los em casa”. “Quanto mais isolados socialmente esses idosos ficarem pelo período de surto, mais eles ficarão protegidos.”
Uheara recomenda ainda que o idoso não suspenda nenhum tipo de medicação e que tome as vacinas. “Quem precisar sair de casa para se vacinar terá de evitar aglomerações, manter distância das pessoas e lugares fechados. Se não tomou, tomar também a vacina contra pneumonia”, aconselha. Consultas de rotina, segundo o médico, também devem ser evitadas, a menos que o idoso apresente algum sintoma agudo. 
Nesta semana, começou a campanha de vacinação da gripe e este ano o Ministério da Saúde inverteu a ordem de prioridades e colocou idosos e profissionais de saúde em primeiro lugar. Embora não haja evidência sobre a eficácia da imunização contra influenza no combate ao coronavírus, ajuda a reduzir os quadros de doenças respiratórias e evita sobrecarregar o sistema de saúde. 
Aos que têm possibilidade de fazer exercícios em casa, é recomendado manter essa rotina. “O idoso que não [pode], se tiver espaços abertos próximos de casa, pode sair, dar uma caminhada e voltar para casa”, acrescenta. Participação em missas e cultos também não é recomendada. “Se puder, é melhor acompanhar as missas pela TV, fazer suas orações em casa, para que não haja exposição.”
Uma das delícias de ser avó ou avô, que é a visita dos netos, também terá que ser repensada. Crianças e adolescentes são vetores da doença e muitas vezes assintomáticos ou com poucos sintomas.
“Tem de evitar ao máximo o contato. Tem aqueles que falam que preferem morrer a não ver os netos, mas é preciso pensar. Se o risco de a criança estar infectada for pequeno, se ela não apresentar nenhum sintoma, tudo bem. Mas se a criança estiver doente ou tiver tido contato com alguém com a doença, aí é evitar mesmo”, destaca Uheara. 
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Contato físico com crianças e adolescentes não é recomendado para idosos. 
O conselho também tem sido frisado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Muitas crianças são assintomáticas, não desenvolvem nem uma coriza. Não tem uma avó que não coloque o neto no colo e não encha de beijos. Pedir para que elas não os beijem, não os abracem e não deem colo seria muito duro. Então procurar dialogar, conversar, proteger”, completa. 
A orientação do ministro de buscar o diálogo vale especialmente para os pais e avós teimosos. 
Nesses casos, é seguir o mantra do ministro: “conversar e proteger”.
A portaria que decretou estado de transmissão comunitária em todo o País prevê que pessoas com mais de 60 anos de idade “devem observar o distanciamento social, restringindo seus deslocamentos para realização de atividades estritamente necessárias, evitando transporte de utilização coletiva, viagens e eventos esportivos, artísticos, culturais, científicos, comerciais e religiosos e outros com concentração próxima de pessoas”.

Quem cuida 

Quem vive com idosos na mesma casa também tem de estar em isolamento. Tendo necessidade de sair, o médico indica fazer o possível para não levar o vírus para casa nem ficar doente.
“É preciso tomar cuidados básicos de higiene de mãos, não levar mãos ao olho, rosto, boca, limpar frequentemente com álcool em gel ou água e sabão. Não esquecer de limpar as mãos quando pegar no celular, no cartão de crédito ou em aparelhos para digitar a senha, elevador. O ideal é sair e voltar com pouca coisa, não ficar levando bolsa e adereços porque eles são possíveis veículos [de transmissão]”, diz. 
Ainda segundo ele, ao chegar em casa, o ideal é desinfetar o celular, canetas, crachá. “Chegou em casa, tire a roupa e vá direto para o banho. Não sente no sofá com a roupa que acabou de chegar da rua. Evite contatos sociais muito próximos. Neste momento, relações de afeto muito próximas devem ser evitadas, principalmente quem fica indo para a rua e voltando.”
Coordenador de vigilância em saúde e laboratórios da Fiocruz, o infectologista Rivaldo Venâncio alerta que não podemos criar um estigma em relação ao idoso devido a este momento de pandemia.
“Vamos comparar duas pessoas, uma com 40 anos de idade e outra com 60. A pessoa com 60 anos que não tem qualquer doença de base, doença cardiovascular, asma, nunca fumou, diabetes, pratica atividades físicas, essa pessoa é muito menos vulnerável às formas graves da infecção do que uma pessoa com 40 anos de idade e que fuma desde os 18 anos, que é sedentária. Então, não é a idade per si. Isso só a partir de 75 anos. Mas com 55, 60 anos, nos temos que deixar claro que existem hábitos que precisamos ter para nos mantermos saudáveis.”
Para todos, independentemente da idade, a orientação é a mesma. Manter distância social, evitar automedicação, procurar unidade de saúde em caso de sintomas e preste atenção na febre. Ele faz uma ressalva em relação aos idosos, que a febre pode ser desenvolvida apenas no quadro clínico mais grave.

Saúde mental

Um público que não pode ser esquecido são aqueles que moram em instituições para idosos. Nesse caso, o médico destaca que todas as visitas devem ser canceladas. “Esses idosos devem ser mantidos em isolamento máximo. A probabilidade de um ficar doente e muitos outros também irem a óbito é grande”, alerta o presidente da SBGG.
Sem visitas e em isolamento, quadros delicados de saúde mental podem piorar. A indicação é fazer o máximo de interações possíveis com seus pais ou avós nessa situação, usando Skype ou Google Hangout, encontros pelo celular ou computador. “Temos que usar muito a tecnologia a nosso favor para diminuir os efeitos da quarentena”, diz Uheara. 
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Celular é um grande aliado nesse momento de isolamento social.
Psicóloga credenciada à Vittude, Eliana Totti reforça a importância da comunicação. “Jogar conversa fora e somente ouvi-los já será muito importante”, diz. Para ela, a tecnologia também é a grande aliada. 
“Solidão vai acontecer. Por isso aqui vale a criatividade para usar os recursos permitidos e disponíveis a fim de manter os idosos ocupados. Por exemplo: cantar parabéns online, jantar online, fazer ginástica online. É hora de ser criativo”, diz. 
Para os idosos que moram sozinhos, Totti pontua que eles ‘tendem’ a ser acostumados a estar em casa. “Mas normalmente eles possuem mobilidade. Este é o problema. Sem mobilidade, eles podem ficar muito deprimidos. Eventualmente, a família pode convencer o idoso a também ter acompanhamento psicológico profissional online.”
Para quem quiser ajudar, há uma plataforma online, chamada Anjo, que dá orientações sobre como voluntários podem ajudar idosos por meio de contato virtual a não enfrentarem esse momento sozinhos. 

Em resumo… 

  • Cuide e proteja os idosos
  • Mantenha-os em casa
  • Não é indicado suspender medicamentos de rotina
  • Vacinação contra gripe e pneumonia é recomendada
  • Consultas de rotina devem ser suspensas
  • Manter rotina de exercícios, desde que seja em casa ou em espaços abertos sem contato humano
  • Acompanhar missas e cultos pela TV
  • Evitar contato com crianças e adolescentes
  • Nada de transporte coletivo, viagens e eventos
  • Se precisar ir à rua, evitar aglomerações e locais fechados
  • Aos cuidadores, higienização das mãos e de objetos é fundamental
  • Mesmo distante fisicamente, esteja por perto

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